O efeito da desinibição online custou o trabalho a pessoas, ao seu salário e as suas relações, no entanto muitos estão alheios a ela.

O primeiro caso famoso de alguém perder o seu trabalho alegadamente por observações indiscretas feitas on-line foi em 2002. Heather Armstrong, autora do blog 'dooce', alegou ter sido despedida após os seus colegas terem descoberto que ela os tinha satirizado online.

Em termos de Internet, ser despedido por algo escrito num blog é algo antigo. Agora, para se chegar às manchetes dos media, as indiscrições têm que estar no Twitter ou no Facebook. Um exemplo recente é Kimberly Swann, uma rapariga que foi despedida por ter dito o que achava do seu trabalho pelo Facebook após um mau dia no trabalho.

O que ela se esqueceu, foi que os seus colegas e chefes eram amigos no Facebook e que a informação iria aparecer na página dos amigos. Ela podia igualmente te-lo dito directamente na cara do patrão e, por providência um chuto nas canelas.

Estes são dois exemplos do que os psicólogos chamam de "Efeito da desinibição online", a ideia de quando online as pessoas sentirem-se menos inibidas por encontros sociais.
Comparado com interacções cara a cara, online senti-mo-nos mais livres para fazer ou dizer o que queremos e, como resultado, muitas vezes, fazer e dizer o que não deviamos.

O psicólogo John Suler, escreveu sobre as seis características da Internet que levam a mudanças radicais no nosso comportamento online:


1. Anonimato

Online, as pessoas sentem que não conseguem ser identificadas da mesma forma que conseguem em público. É semelhante a sairmos com um fato à noite com uma máscara para cobrir a face. Esse sentido de desconexão da personalidade normal permite novas formas de comportamento. As pessoas podem até considerar o seu comportamento online a surgir de um alter ego online.

Ironicamente, no entanto, algumas pessoas são muito menos anónimas online do que offline. Por causa do efeito desinibição online, há quem partilhe demasiada informação nos seus perfis online, por vezes até coisas que não contariam até aos seus amigos mais próximos. É fácil esquecer-se de que não se precisa de treino de espionagem para escrever o nome de alguém no Google.


2. Invisibilidade

Como as outras pessoas não nos conseguem ver, não nos temos de preocupar com o nosso aspecto e com os sinais emocionais que enviamos através de expressões faciais.

Imagine, por exemplo, que está a contar a um amigo sobre uma experiência angustiante. Você pode sentir a vontade para tentar e esconder a dimensão da emoção deles, o que dará com que pare de contar a história. Online, no entanto, pode continuar a contar a história sem dar a entender o quão má realmente é.



Pode permitir-nos falar abertamente de coisas que não podemos falar cara a cara. Grupos de apoio online contam com esta abertura para permitir aos membros falar sobre os seus maiores medos e esperanças. Este é um dos aspectos potencialmente positivos da desinibição online, desde que os utilizadores protejam a sua privacidade e identidade.


3. Parar/Começar comunicação

Cara a cara, nós vemos as reacções das pessoas em relação ao que dizemos ou fazemos imediatamente.
Isso tende a transtornar ou a perturbar o julgamento dessas pessoas.

Online não há essas restrições: por causa da assincronicidade online é possivel dizer algo e esperar 24 horas até ler a resposta, ou nunca ler.

Os chamados trolls da internet são pessoas que postam em fóruns de discussão ou outros grupos sociais online com a finalidade expressa de originar controvérsia (conhecidas online por flame wars). Eles são especialistas num género de toca e foge emocional.
Por outro lado, pessoas que possam ter dificuldade em comunicar cara a cara podem-se tornar eloquentes e atenciosas online.

A maioria de nós provavelmente pertencem algures entre estas duas posições extremas. No entanto a falta de feedback imediato da linguagem corporal causa todo o tipo de falhas de comunicação online. Uma das mais comuns causas destas falhas são as piadas. Sem o acompanhamento da linguagem corporal, piadas amigáveis são facilmente mal entendidas e interacções podem assumir rapidamente interpretações erradas.


4. Vozes na sua cabeça

O próprio acto da leitura online pode criar uma conexão íntima surpreendente.
Porque as palavras das outras pessoas estão na nossas cabeças, podemos misturá-las com os nossos monólogos internos.

Enquanto que os humanos têm lido romances e cartas durante séculos, estes são os modos relativamente formais de comunicação, e foi só na última década que a comunicação online transformou a intimidade de uma carta para informal.


5. Um mundo imaginário

 O anonimato, a invisibilidade e os elementos de fantasia das actividades online motiva-nos a pensar que as regras usuais não se aplicam. Como uma fantasia de ficção cientifica de escape, a Internet permite-nos ser quem queremos e fazer o que queremos, tanto bom como mau.

O problema é que quando a vida se torna um jogo pode ser deixada de parte com um estalar de dedos, é fácil atirar a responsabilidade para fora da janela.


6. Sem polícia

Nós todos tememos a reprovação e a punição, mas neste mundo imaginário aparenta não ter polícia ou qualquer figura com autoridade. No entanto, há pessoas com autoridade online, é difícil dizer-vos quem são. Não há governo, nem alguém a comandar na Internet. Portanto as pessoas sentem-se mais livres online: afastadas da autoridade, da convenção online e da conformidade.

É claro que a ideia de que não há autoridade online é uma fantasia porque existe um polícia dentro de todos nós, num maior ou menor grau.


Improvisar

Estes factores trabalham juntos para criar um mundo em que nos sentimos mais livres. Mas esta liberdade é uma ilusão mantida pela experiência online da invisibilidade, do anonimato e da falta de feedback emocional imediato dos outros, ou pelo menos da nossa possibilidade de desligar esse feedback.

Talvez isto seja liberdade: algumas pessoas relatam sentir-se mais próximas de si próprias online. Mas há uma razão que desenvolveu todas essas inibições sociais no antigo, mundo offline. Elas impedem-nos de ofender as outras pessoas, o que nos ajuda a manter os nossos empregos e relações. Isto não é para dizer que a Internet não nos pode ajudar a construir relações com outros ou encontrar empregos, pode claramente. Nós apenas tendemos a ser menos conscientes do quanto o nosso comportamento pode mudar online e das desvantagens potenciais dessas mudanças.

De agora adiante precisamos de relembrar que a Internet é ainda uma invenção relativamente nova e, socialmente, ainda estamos a chegar a um acordo com ela. O estabelecimento de subtileza no comportamento cara a cara, ainda não foram efectuados online e na ausência de precedentes, temos que improvisar.


Fonte: PsyBlog

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